Este espírito de concessão ao paganismo abriu caminho para desrespeito ainda maior da autoridade do Céu. Satanás, operando por meio de não consagrados dirigentes da igreja, intrometeu-se também com o quarto mandamento e tentou pôr de lado o antigo sábado, o dia que Deus tinha abençoado e santificado (Gênesis 2: 2 e 3), exaltando em seu lugar a festa observada pelos pagãos como "o venerável dia do Sol".
Esta mudança não foi a princípio tentada abertamente. Nos primeiros séculos o verdadeiro sábado foi guardado por todos os cristãos. Eram estes ciosos da honra de Deus, e, crendo que Sua lei é imutável, zelosamente preservavam a santidade de seus preceitos. Mas com grande argúcia, Satanás operava mediante seus agentes para efetuar seu objetivo. Para que a atenção do povo pudesse ser chamada para o domingo, foi feito deste uma festividade em honra da ressurreição de Cristo. Atos religiosos eram nele realizados; era, porém, considerado como dia de recreio, sendo o sábado ainda observado como dia santificado.
A fim de preparar o caminho para a obra que intentava cumprir, Satanás induzira os judeus, antes do advento de Cristo, a sobrecarregarem o sábado com as mais rigorosas imposições, tornando sua observância um fardo. Agora, tirando vantagem da falsa luz sob a qual ele assim fizera com que fosse considerado, lançou o desdém sobre o sábado como instituição judaica. Enquanto os cristãos geralmente continuavam a observar o domingo como festividade prazenteira, ele os levou, a fim de mostrarem seu ódio ao judaísmo, a fazer do sábado dia de jejum, de tristeza e pesar.
Na primeira parte do século IV, o imperador Constantino promulgou um decreto fazendo do domingo uma festividade pública em todo o Império Romano ¹. O dia do Sol era venerado por seus súditos pagãos e honrado pelos cristãos; era política do imperador unir os interesses em conflito do paganismo e cristianismo.
Com ele se empenharam para fazer isto os bispos da igreja, os quais, inspirados pela ambição e sede do poder, perceberam que, se o mesmo dia fosse observado tanto por cristãos como pagãos, promoveria a aceitação nominal do cristianismo pelos pagãos, e assim adiantaria o poderio e glória da igreja. Mas, conquanto muitos cristãos tementes a Deus fossem gradualmente levados a considerar o domingo como possuindo certo grau de santidade, ainda mantinham o verdadeiro sábado como o dia santo do Senhor, e observavam-no em obediência ao quarto mandamento.
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¹ A lei promulgada por Constantino a sete de março de 321, relativa a um dia de descanso, assim reza:
"Que todos os juízes, e todos os habitantes da cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol. Não obstante atendam os lavradores com plena liberdade ao cultivo dos campos; visto acontecer a miúdo que nenhum outro dia é tão adequado à semeadura do grão ou ao plantio da vinha; daí o não se dever deixar passar o tempo favorável concedido pelo Céu" - Codex Justinianus, lib. 13, tít. 12, pár. 2 (3).
"Descansem todos os juízes, o povo das cidades e os oficiais de todas as artes no venerável dia do Sol. Mas trabalhem livre e lícitamente nas fainas agrícolas ou estabelecidos nos campos, pois acontece com freqüência que em nenhum outro dia se deita mais convenientemente o grão aos sulcos e se plantam vides nas covas, a fim de de que com a ocasião do momento não se perca o benefício concedido pela celestial providência." Código de Justiniano, lib. 3, tít. 12, párr. 2 (3) (na edição em latim e castelhano, por García del Corral, do Corpo do direito civil romano, tomo 4, pág. 333, Barcelona, 1892).
Além disso, o original latim se acha em J. L. v. Mosheim: Institutionem Historia Ecclesiastica antiquioris et recensioris, sig. 4, parte 2, cap. 4, sec. 5, e em muitas otras obras.
Diz o Dicionário Enciclopédico Hisp. Amer., art. Domingo: "O imperador Constantino, no ano 321, foi o primeiro a ordenar a rigorosa observância do domingo, proibindo toda classe de negócios jurídicos, ocupações e trabalhos; unicamente se permitia aos lavradores que trabalhassem aos domingos nas fainas agrícolas, se o tempo fosse favorável. Uma lei posterior, do ano 425, proibiu a celebração de toda classe de representações teatrais e, afinal, no século VIII aplicaram-se com todo o rigor, ao domingo cristão, as proibições do sábado judaico."