O caráter de Wycliffe é testemunho do poder educador e transformador das Sagradas Escrituras. Foram estas que dele fizeram o que foi. O esforço para aprender as grandes verdades da revelação, comunica frescor e vigor a todas as faculdades. Expande a mente, aguça a percepção, amadurece o juízo.
O estudo da Bíblia enobrece a todo pensamento, sentimento e aspiração, como nenhum outro estudo o pode fazer. Dá estabilidade de propósitos, paciência, coragem e fortaleza; aperfeiçoa o caráter e santifica a alma. O esquadrinhar fervoroso e reverente das Escrituras, pondo o espírito do estudante em contato direto com a mente infinita, daria ao mundo homens de intelecto mais forte e mais ativo, bem como de princípios mais nobres, do que os que já existiram como resultado do mais hábil ensino que proporciona a filosofia humana. “A exposição das Tuas palavras dá luz”, diz o salmista; “dá entendimento aos símplices.” Salmo 119: 130.
As doutrinas ensinadas por Wycliffe continuaram durante algum tempo a espalhar-se; seus seguidores, conhecidos como wyclifitas e lolardos, não somente encheram a Inglaterra, mas espalharam-se em outros países, levando o conhecimento do evangelho. Agora que seu guia fora tomado dentre os vivos, os pregadores trabalhavam com zelo maior do que antes, e multidões se congregavam para ouvi-los. Alguns da nobreza e mesmo a esposa do rei se encontravam entre os conversos. Em muitos lugares houve assinalada reforma nos costumes do povo, e os símbolos do romanismo foram removidos das igrejas. Logo, porém, a impiedosa tempestade da perseguição irrompeu sobre os que haviam ousado aceitar a Escritura Sagrada como guia.
Os monarcas ingleses, ávidos de aumentar seu poder mediante o apoio de Roma, não hesitaram em sacrificar os reformadores. Pela primeira vez na história da Inglaterra a fogueira foi decretada contra os discípulos do evangelho. Martírios sucederam a martírios. Os defensores da verdade, proscritos e torturados, podiam tão-somente elevar seus clamores ao ouvido do Senhor dos exércitos. Perseguidos como inimigos da igreja e traidores do reino, continuaram a pregar em lugares secretos, encontrando abrigo o melhor que podiam nos humildes lares dos pobres, e muitas vezes refugiando-se mesmo em brenhas e cavernas.
Apesar da fúria da perseguição, durante séculos continuou a ser proferido um protesto calmo, devoto, fervoroso, paciente, contra as dominantes corrupções da fé religiosa. Os crentes daqueles primitivos tempos tinham apenas conhecimento parcial da verdade, mas haviam aprendido a amar e obedecer à Palavra de Deus, e pacientemente sofriam por sua causa. Como os discípulos dos dias apostólicos, muitos sacrificavam suas posses deste mundo pela causa de Cristo. Aqueles a quem era permitido permanecer em casa, abrigavam alegremente os irmãos banidos; e, quando eles também eram expulsos, animosamente aceitavam a sorte dos proscritos.
Milhares, é verdade, aterrorizados pela fúria dos perseguidores, compravam a liberdade com sacrifício da fé, e saíam das prisões vestidos com a roupa dos penitentes, a fim de publicar sua abjuração. Mas não foi pequeno o número – e entre estes havia homens de nascimento nobre bem como humildes e obscuros – dos que deram destemido testemunho da verdade nos cubículos dos cárceres, nas “Torres dos Lolardos”, e em meio de tortura e chamas, regozijando-se de que tivessem sido considerados dignos de conhecer a “comunicação de Suas aflições”.